Projeto em Execução | Agricultura Familiar
Cerrado Sustentável
Localização
O Cerrado, bioma da região central do Brasil, é a savana mais biodiversa do planeta, e também uma das mais ameaçadas, com menos de 2% da sua extensão protegida por parques nacionais e unidades de conservação. Pilar da produção agrícola brasileira, sua paisagem é um mosaico de grandes propriedades produtoras de commodities, e pequenas comunidades rurais agroextrativistas.
O projeto será desenvolvido no nordeste do estado de Goiás, em nove municípios (Formosa, São João D’Aliança, Flores de Goiás, Sítio D’Abadia, Alvorada do Norte, Damianópolis, Mambaí, Guarani de Goiás e São Domingos) que se encontram em situação de vulnerabilidade social, com índices de desenvolvimento humano (IDH) abaixo da média estadual e nacional. São regiões onde a produção agrícola é a principal atividade econômica, mas que encontram diversos desafios para o seu desenvolvimento.
Espécies
O projeto promoverá a agroecologia como oportunidade de geração de renda e segurança alimentar. Este é um método de produção que se baseia no cultivo consorciado de espécies convencionais, como milho, feijão, amendoim, grão-de-bico e arroz, com espécies nativas já cultivadas por gerações entre comunidades tradicionais. Juntas, elas complementam e otimizam os recursos disponíveis no solo, reduzindo perdas em produtividade e garantindo segurança alimentar.
Dentre as espécies nativas, foram selecionadas três que apresentam grande potencial para comercialização, mas ainda são pouco ou mal manejadas, além de serem parte da cultura alimentar do Cerrado, influenciando na segurança alimentar das famílias. São:
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Faveira (Dimorphandra mollis): espécie pioneira e muito resistente, consegue se desenvolver em condições ambientais adversas. Rica em rutina, uma substância amplamente utilizada na indústria farmacêutica.
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Baru (Dipteryx alata): alimento rico em ferro e proteína, sendo mais nutritivo e barato do que o coco ralado (que acabou sendo substituído pelo baru nas refeições escolares em Goiás).
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Jatobá (Hymenaea courbaril): espécie resistente e rica em cálcio, com diferentes potenciais para uso. É uma ótima opção em substituição às farinhas com glúten.
História da comunidade
O território do Cerrado é marcado por um mosaico de grandes fazendas de produção, com polígonos de mais de 500 hectares de extensão, onde são desenvolvidas atividades de produção altamente tecnológicas. Junto nessa paisagem, também existe um outro perfil de agricultor: os chamados agroextrativistas, famílias que desenvolvem o extrativismo como alternativa à cultura agropecuária tradicional para geração de renda e subsistência.
Com propriedades que possuem em média 1 a 2 hectares, essas famílias provenientes de comunidades tradicionais encontram diversos desafios para o crescimento e formalização dos seus trabalhos. Isoladas no mosaico das grandes fazendas de produção, a sua atuação descentralizada dificulta o acesso ao mercado, a padronização da produção, qualificação da sua mão-de-obra, e acesso a tecnologias que possam agregar valor ao produto e aumentar a produtividade. Assim, elas acabam trabalhando com o mercado informal, e dependem de intermediários para a comercialização dos seus produtos, que historicamente acabam ditando os termos e precificação do mercado.
São famílias que sobrevivem hoje da produção agrícola e do extrativismo, algumas com criação animal de pequena escala para consumo próprio, e renda média anual de R$6 a 20 mil. Porém, apesar de atuarem na produção agrícola, ainda têm condições de otimizar seu uso do potencial da terra. Muitas vezes por falta de orientação, ou ainda por necessidade, acabam sobreexplorando as espécies para atender ao máximo a demanda de mercado e ter um mínimo de retorno financeiro.
Existem duas realidades que serão compreendidas pelo projeto: uma é das famílias que já participam da Rede de Comercialização Solidária, porém ainda necessitam de orientação técnica, seja para aprimorar as práticas de manejo, expandir o leque de produtos trabalhados ou finalizar o processo de certificação orgânica. A outra realidade é de inclusão de novas famílias às práticas de manejo sustentável e trabalho em cooperativa, aumentando a rede de agroextrativistas atuando no manejo sustentável e orgânico do Cerrado.
Impactos históricos:
2000 – Constituição do CEDAC
2001 – Criação da marca coletiva “Empório do Cerrado”, que resultou na inclusão da farinha de baru na alimentação escolar.
2003 – Implementação do Centro Nacional de Agroecologia, em parceria com a Embrapa, Agência Ambiental/GO e o MMA.
2011 – Início de um projeto junto ao MDA para a implantação da certificação orgânica.
2014 – CEDAC é credenciado como Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica pelo MAPA.
2022 – Formalização do apoio do Instituto Louis Dreyfus ao Projeto “Cerrado Sustentável”.
O projeto
Com o objetivo de promover o desenvolvimento socioeconômico baseado no agroextrativismo sustentável do Cerrado, o projeto capacitará agricultores familiares e estabelecerá uma estrutura organizacional socioprodutiva, garantindo inclusão social e geração de renda aliados à conservação da biodiversidade.
Como resultado, espera-se aumentar a produção e renda de 360 famílias através da promoção de práticas produtivas de respeito à natureza, contribuindo para a conservação de um dos focos da biodiversidade global, o Cerrado, e promovendo melhorias na saúde e bem-estar, tanto para quem maneja, quanto para quem consome.
18
comunidades mapeadas
360
agroextrativistas mobilizados para participar do projeto e engajados na Rede de Comercialização Solidária
25%
de representatividade de mulheres entre os participantes
10%
de aumento na produtividade e na renda das famílias no primeiro ano
600
kg/família/ano de produção
100
novos processos de certificação iniciados
30%
de aumento na qualidade do solo
25%
de aumento na diversidade de espécies manejadas
36.000
mudas de baru plantadas
Impactos do
projeto
Atividades do projeto
Melhorar os meios de subsistência das famílias através do desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis de espécies nativas.
Serão executadas reuniões de mobilização, organização, planejamento socioprodutivo e avaliação de impacto do projeto, com representantes de todas as comunidades, promovendo a participação comunitária, focada também nas minorias como mulheres e jovens, para que seja construído um processo conjunto de transformação social, econômico e ambiental.
Transição para a produção agroecológica a partir do aprimoramento de habilidades e práticas, incluindo a certificação orgânica
Serão conduzidos workshops de manejo e pré-processamento sustentável, e certificação orgânica participativa, além do intercâmbio sobre agroecologia de agricultor para agricultor para disseminar práticas mais resilientes de reprodução, com o objetivo de construir capacidade técnica. Também será conduzido o acompanhamento do manejo das famílias, e organização da produção para beneficiamento e comercialização dos produtos em parceria com a Coopcerrado.
Conservação da biodiversidade do Cerrado
Serão conduzidas visitas técnicas nas propriedades das famílias participantes, para mapeamento das áreas potenciais para enriquecimento, fornecimento e supervisão do plantio de mudas de baru (Dipteryx alata) nas áreas, além de orientação de práticas agroecológicas e análise de solo para implementação da técnica de sequeiro.
Realização
Instituto Louis Dreyfus
O Instituto Louis Dreyfus é o representante da Louis Dreyfus Foundation no Brasil, braço filantrópico da Louis Dreyfus Company, empresa do setor de commodities agrícolas. O Instituto possui uma política de investimentos norteada para o apoio a projetos que ajudam pequenos agricultores e comunidades rurais a se tornarem autossuficientes, contribuindo para a segurança alimentar e aliviando a pobreza.
CEDAC
Constituído em 2000, com o propósito de assessorar comunidades rurais do Cerrado para a superação da pobreza e da injustiça social, por meio da valorização do saber-fazer destas comunidades sobre o Território - Bioma - Cerrado. A Rede de Comercialização Solidária mobilizada pelo CEDAC, cujos princípios saem do Centro Nacional de Agroecologia, viabiliza o desenvolvimento de práticas sustentáveis nos cerrados, com agregação de valor a produtos voltados para alimentação, medicamentos, cosméticos, entre outros.
VBIO.eco
Plataforma de bioeconomia que viabiliza projetos de valorização da biodiversidade brasileira. Conta com uma equipe multidisciplinar com mais de 12 anos de experiência em gestão de projetos e comunicação corporativa. Sua atuação já viabilizou a operação de 23 projetos de valorização da biodiversidade, e criou uma rede de mais de 500 organizações e empresas atuantes na causa socioambiental.